RIBEIRÃO PRETO / SP - quinta-feira, 25 de abril de 2024

Histerectomia

HISTERECTOMIA:

 

Quando se diz a uma mulher que ela  precisa se submeter a uma histerectomia (intervenção cirúrgica para extrair o útero), existe uma grande possibilidade que ela não tenha noção de todas as implicações que envolvem tal ato.

Por que motivo as mulheres precisam de fazer a operação?
Várias doenças podem acometer o útero e  levar  a necessidade de retirada deste órgão. A alteração mais frequente é, sem dúvida, a leiomiomatose (também conhecida como miomatose) uterina, que é uma patologia benigna, Antigamente, o leiomioma ou mioma também era conhecido como fibroma.

Outras condições podem exigir histerectomia como hemorragia pós parto, infecção grave (miometrite ) e câncer de colo, endométrio e ovário. 

A histerectomia implica na extração dos ovários?
Nem sempre. Os ovários só precisam ser retirados quando estiverem doentes, ou se a mulher já estiver na menopausa, evitando neste caso risco futuro de câncer nos ovários. No caso de mulheres que ainda não tenham chegado à menopausa, a extração dos ovários causa uma menopausa brusca e prematura. Mulheres mais jovens que tiveram extraídos os ovários antes da menopausa devem conversar com o seu médico sobre a terapia para a substituição de hormônios.

Quando somente o útero é retirado não há necessidade de reposição hormonal.

A histerectomia é o único tratamento possível?
Embora seja essencial fazer uma histerectomia para certas formas de câncer ou em algumas emergências como infeções graves ou hemorragias pós parto, é normalmente a última alternativa para distúrbios como sangramento abundante e miomas. Existem outras opções que devem ser conversadas com o médico assistente, incluindo a extração dos miomas, embolização, ou mesmo, diminuir o sangramento com tratamentos hormonais ou tratamentos para a remoção de revestimento interno do útero (ablação de endométrio).

Como é feita a histerectomia?
Existem técnicas diferentes, tendo cada uma vantagens e desvantagens. O seu médico pode conversar consigo sobre cada uma dessas técnicas.
- Histerectomia abdominal – extração do útero através de uma incisão no abdome que pode ser transverso ou longitudinal, dependendo de algumas condições como o tamanho do útero, obesidade, ou patologias malignas (câncer).  Geralmente é realizada a histerectomia total em que é retirado o útero todo, inclusive com o colo uterino (não confundir com pan histerectomia que envolve a retirada das trompas e ovários). Numa operação menos comum, denominada histerectomia subtotal, o colo uterino é deixado intacto.
- Histerectomia Vaginal – extração do útero ocorre pela vagina, a qual não deixa cicatrizes visíveis.
- Histerectomia por Vídeo Laparoscopia - extração do útero é realizada com uma câmera e pinças especiais inseridas por pequenas incisões feitas no abdome.

Quais são os efeitos da histerectomia?
Quando o útero é extraído os períodos menstruais param e é impossível engravidar. Não é verdade que as histerectomias fazem uma mulher engordar ou mudam a sua personalidade. No entanto, algumas mulheres, principalmente as mulheres mais jovens, podem sentir-se angustiadas porque perdem a capacidade de ter filhos.

Quanto tempo demora a recuperar?
Uma histerectomia abdominal implica em hospitalização de 1 a 2 dias e aproximadamente de seis a oito semanas para a recuperação total. No caso de cirurgia vaginal ou laparoscópica a estadia esta em torno de 1 dia e quatro semanas para recuperação completa.

Quando se pode começar a ter novamente relações sexuais?
Aproximadamente 6 a 8 semanas após a operação. A sexualidade da mulher e a sua capacidade de ter orgasmos não são afetadas pelo fato de se ter submetido a uma histerectomia. As mulheres que tinham sangramento abundante ou desconforto durante as relações sexuais antes da intervenção cirúrgica podem começar a sentir mais prazer nas relações sexuais.

E quanto aos testes de Papanicolau depois de uma histerectomia?
As mulheres cujo colo uterino foi preservado (histerectomia subtotal) devem continuar a fazer o teste como recomendado pelo médico. Nas outras modalidades de histerectomia, com a retirada do colo uterino este exame não é mais necessário.

 

 

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A BANALIZAÇÃO DA HISTERECTOMIA

Dr. Pedro Sérgio Magnani

 

Ela é, sem dúvida, a cirurgia ginecológica mais realizada no mundo. E, se considerarmos também as cirurgias obstétricas, apenas a cesariana é mais indicada.   

Infelizmente, nos últimos anos temos assistido a uma banalização deste ato cirúrgico, com indicações por vezes discutíveis ou totalmente equivocadas.

É comum observarmos úteros serem removidos de mulheres na peri menopausa devido a distúrbios menstruais próprios desse período com o pretexto de facilitar a terapia hormonal, ou simplesmente porque alguns “micro-miomas” foram vistos em uma ultrassonografia de rotina.

A maior indicação de histerectomia é, sem dúvida, a leiomiomatose, que só pelo simples achado ultrassonográfico passa a ser a culpada de todos os problemas referidos pela paciente e, não raro, chegamos ao absurdo de encontramos casos totalmente assintomáticos sendo operados.

O útero, assim como a mama, tem para a mulher uma conotação especial, totalmente diferente de outros órgãos. É na verdade, o símbolo de sua feminilidade, aquilo que a diferencia dos homens, o que a torna especial, o local da criação da vida. Já dizia um grande anatomista italiano: - a menstruação é o choro do útero pelo óvulo não fecundado!

Voltando a terra, vemos que a volúpia com que se indica uma histerectomia, hoje em dia, é assustadora. Inicialmente, é necessário que o diagnóstico e a conduta sejam discutidos abertamente com a paciente. Compete ao médico, informar o mais detalhadamente possível qual a patologia e quais a opções de tratamento possíveis para o caso, para então, frente às aspirações e necessidades daquela mulher, orientar a melhor conduta.

A razão da indicação desenfreada que temos assistido dessa cirurgia mutilante, foge a compreensão de qualquer um. O valor pago pelos convênios e mais ainda pelo SUS é irrisório e não deveria justificar a realização de um procedimento  considerado de médio porte, com complicações intra e pós-cirúrgicas, por vezes, gravíssimas, simplesmente pela “ganância”...

Talvez a ignorância das novas técnicas cirúrgicas e alternativas conservadoras, associadas às más condições de trabalho possam ter participação nessa agressividade toda. Realmente fica muito difícil se justificar, por exemplo, a retirada de um útero de 200 gramas assintomático ou um mioma subseroso de 1,5 centímetros de diâmetro.

É preocupante a falta de atualização de alguns colegas quanto às indicações, técnicas menos invasivas e, principalmente, alternativas de tratamento que não envolvam a retirada do útero.

Pólipos endometriais que antigamente eram tratados de maneira radical, hoje podem ser removidos ambulatorialmente por histeroscopia. A própria histerectomia abdominal vem sendo substituída com vantagens pela via vaginal ou vídeo assistida, muito menos invasivas.

Quando se fala em preservação do útero encontramos uma gama de procedimentos que vão muito além da tradicional miomectomia. A embolização, a ligadura vaginal das artérias uterinas, a miólise e a ablação de endométrio são condutas novas que devem ser consideradas com uma boa opção em casos específicos.

A miomectomia também tem sofrido modificações da técnica com as vias laparoscópica, histeroscópica e vaginal. Além do advento de drogas usadas como coadjuvantes no pré-operatório, como os agonistas de GnRH e inibidores de  aromatase, que reduzem o tamanho dos miomas e o sangramento intracirúrgico.

Uma vez convencidos da necessidade da remoção do útero, é de suma importância que a escolha da via e a técnica a serem utilizadas sejam sempre discutidas com a paciente. Embora a última palavra deva ser do médico, sempre que possível, ele deve usar o bom senso, no sentido de não agravar ainda mais a ansiedade da mulher que está prestes a perder um órgão tão precioso para ela.  

Sabe-se, através de vários estudos randomizados e muito bem conduzidos, que a via vaginal deve ser escolhida sempre que possível, seguida da via vídeo assistida e, por último, da abdominal, respeitando-se a individualidade de cada caso, a capacidade, a experiência e a preferência de cada cirurgião.

É preciso que essa retirada em massa de úteros tenha um fim. Que a histerectomia seja valorizada como uma cirurgia que traz benefícios imensos quando bem indicada e corretamente realizada. Que as normas da boa técnica cirúrgica sejam respeitadas, assim como a vontade e as necessidades de cada paciente, enquanto mulher, portadora de um órgão que é a própria essência da sua feminilidade.        

     (Artigo publicado na Revista do Cento médico de Ribeirão Preto -2010)